"ESPERANÇA É AQUILO QUE TEM PLUMAS - QUE SE EMPOLEIRA NA ALMA - E CANTA CANÇÃO SEM PALAVRAS - E NUNCA PÁRA, NUNCA."
emily dickinson.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
desastre de uma idéia
desastre de uma idéia
só o durante dura
aquilo que o dia adiante adia
estranhas formas assume a vida
quando eu como tudo que me convida
e coisa alguma me sacia
formas estranhas assume a fome
quando o dia é desordem
e meu sonho dorme
fome da china fome da índia
fome que ainda não tomou cor
essa fúria que quer
seja lá o que for
Leminski
só o durante dura
aquilo que o dia adiante adia
estranhas formas assume a vida
quando eu como tudo que me convida
e coisa alguma me sacia
formas estranhas assume a fome
quando o dia é desordem
e meu sonho dorme
fome da china fome da índia
fome que ainda não tomou cor
essa fúria que quer
seja lá o que for
Leminski
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
lista 1
coisas que realmente valem a pena:
- tapioca quente de manhã
- sentir saudades
- passear descalço aonde não se deve
- esquecer das coisas
- um pássaro
- tapioca quente de manhã
- sentir saudades
- passear descalço aonde não se deve
- esquecer das coisas
- um pássaro
| recorte ||
A gente não se apaixona pela pessoa toda, mas pelo entorno que vem todo junto com a pessoa. As arestas têm cor e fazem parte da parte que entorna o coração. Eu não. É pelo outro que o meu olhar se esvai. Por ele e pela moldura. Por ele e pela poesia. Por ele. Por ele. Por ele.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
robei a frase
"Ninguém se apaixona por escolha, mas por acaso. Ninguém permanece apaixonado por acaso, é um esforço diário. E ninguém se desapaixona por acaso, é um escolha."
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
flecha preta
...“Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo em sê-lo, porque temo que o meu ciúme magoe o outro e porque me deixo dominar por uma banalidade. Sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.”
Roland Barthes
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
candalia
espero. espero por você o tempo todo. o tempo todo espero por você. espero por você o tempo todo volta. espero de volta. espero por você o tempo todo espero. o tempo todo espero você. espero você de volta. espero a volta do tempo de você, espero. espero você todo. espero o tempo. volta. espero de volta. espero você por esperar. espero o tempo. espero o tempo todo. espero por você o tempo todo volta. espero a volta. espero pela volta todo o tempo por você. você, espero. espero em tempo. o tempo todo espero. espero a volta. espero por você o tempo todo volta. espero todo. espero a volta. espero o tempo. espero você. o tempo todo espero. o tempo todo volta.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sem medo da queda
e talvez sim perder as estribeiras. e talvez sim, poder dizer, poder te olhar, e sem medo e com pressa seguir, querer viver. "ai de quem não rasga o coração", digo de novo. e de novo.
o mundo todo na palma da mão, distante-perto, querer-te inteiro sem medida sem eira nem beira, no meio da guerra, no meio da festa, no canto da sala, na música alta, na pausa. não digas nada. não prometas. não escondas. não fujas. não cale. não caia.
venha já. enfrenta logo o medo que se tornou senhor da tua vida. me dê a mão, vamos atravessar a rua, olha pra frente. estamos seguros no meio da multidão. a lua de cima nos olha, nos dá a benção:
serão felizes os dois,
serão felizes os dois,
serão felizes.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
transborda mar
Se o que sinto por você transborda, já não existem mais artifícios pra esconder tudo que se passa. Nossas conversas viraram defesa prum possível desencontro, analisar o inalisável, tentar compreender o que não se compreende, nunca. Agora devo partir e no meu coração resta uma saudade quase sem tamanho, um motivo grande demais pra me fazer ficar. De repente tudo parece menor, até os planejamentos mais arcaicos. No entanto, afirmar nosso encontro seria me desnudar completamente, e para isso estou cheia de um medo que pode me difamar. Sinto, verdadeiramente, uma saudade mútua. Um desejo. Um calor. No entanto, percebo: eu sei que você me pede calma. Sei que você é capaz de viver as coisas como quem colhe arroz, um a um, sem pressa, na contagem pura dos dias. Eu me atrapalho no próprio querer, como se não coubessem passos lentos nas minhas próprias vontades. Agora sigo em direção à partida, lágrimas nos olhos feito guarda chuva, e rezo, rezo, rezo, por sua volta. Torço pelo nosso encontro, que perdure, que o medo não nos tome, que os outros não intefiram, que nossos passos sejam certeiros, que os kilômetros que nos separam sejam centímetros diante do maior desejo de hoje em diante e sempre: nós.
domingo, 31 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
todo mundo
no fundo do fundo do fundo de tudo, todas as pessoas só estão atrás de alguém que lhes dê a devida atenção. exatamente como uma criança que faz pirraça no canto da sala, pedindo milhões de coisas - e no fundo só deseja que alguém olhe pra ela. todo mundo está sempre mendigando uma espécie qualquer de amor, um abraço mais cuidadoso, um sorriso, um cutucão no braço, um aperto de mão que prometa "estou contigo, meu bem, estou contigo." curioso é pensar que o desejo maior de todos os desejos - esse, uma forma qualquer de amar e ser amado - seja justamente a coisa que causa mais medo nesse mundo.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
é claro que você sabe do que estou falando
"As pessoas tendem a se manter no grupo de sua altura porque é melhor para o pescoço. A não ser que tenham um envolvimento romântico, caso em que a diferença de altura é sexy. Então significa: estou disposta a vencer essa distância para chegar até você."
Miranda July, "O quintal compartilhado".
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
hoje
"chegaste como quem recorda e nada daquilo que acontece pode ser visto como a continuação do que ficou para trás. não se encontram narrativas na vida de todos os dias, sabes disso. já deste as cabeçadas que tinhas que dar na vida, agora esperavas uma surpresa, mas não era para acontecer assim. sentaste-te na mesa do café e a tua mão fugiu para a dele. qualquer coisa que começava agora como nunca. qualquer coisa que não tinha estado programada. gostas do toque, faz-te sentir serena e poderosa. chegaste como quem recorda e nada disto era recordado nos tempos que passaram. queres o corpo vivo, queres o corpo dele. entregas-te num beijo, ainda tímido, já desejoso, como se fosse possível que tudo acontecesse dentro de uma redoma que nos protege. já deste as cabeçadas que tinhas que dar na vida, agora queres algum sossego, algum prazer. ele sabe disso."
www.luisfilipecristovao.blogspot.com
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
porta-retrato
ali onde a canção começa, na caixa antiga da memória, na poeira, é que encontramos restos de nós. restos quase esquecidos de tanta solidão, por tanto tempo vivemos mergulhados no silêncio. agora parece que um calor novo habita, um punhal de cores, como se guardássemos saudades em saquinhos compactados em sachês que hoje explodiram. e de novo uma palavra ganha sentido, um olhar que enxerga, um abraço apertado, um mimo. de novo um afeto que tinha se perdido na demanda dos dias, nos desasossegos, no endurecer do nosso coração ganha corpo. é como se ganhássemos corpo de novo e finalmente fosse possível o abraço. o abraço prometido, o abraço que ainda não foi e ainda será, por completo. é como se depois de tanto tempo uma gargalhada cortasse o corredor em estrondo e nos fizesse ouvir: "existimos". e assim iremos abrir as janelas, as portas, as gavetas, deixando que o ar invada o espaço em tons de vermelho, povoando a sala com novos cheiros, uma nova vida habita essa casa.
estamos vivos, meu deus, estamos vivos.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
mundo
"cabe dentro do meu peito um furor de movimentos que não controlo, que não defino. cabe dentro de mim, eu não nomeio. mas os meus braços, as minhas pernas, correm dentro de mim também em prospecção desse rebentamento. cabe dentro de mim, e eu sou enorme. sou as montanhas e os vales lavados a sangue de vida. sou os rios e os mares em marés sempre mais cheias. cabe dentro do meu peito um furor de movimentos que não controlo, e não definho. eu sou um mundo, um mundo, um mundo."
luis filipe cristóvao.
sábado, 25 de setembro de 2010
no corredor dos dias
tem um nome que se repete e traz aflição. é medo de algo muito bom ou muito ruim. é medo porque é qualquer coisa. e qualquer coisa é sempre coisa de muita importância.
nessa tarde clara eu vou guardar todos os pedaços de mim bem longe do computador. invento projetos, metas, qualquer coisa que me distraia de você. e o que acontece? você surge. sem aviso nem recado, você surge.
sua voz engoliu a fronha do meu travesseiro. a janela do carro. as torradas do café da manhã. a passagem de trem. a mentira e o silêncio. sua voz existe em silêncio.
eu não sei qual é a rota que se traça agora. talvez eu vá preferir ficar calada. talvez eu diga, como quem canta, tudo que se passa aqui, dentro de mim.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
memória
"pretendes inventar uma biografia onde o mundo esteja sujeito a um interruptor. mas, tu sabes, não funciona. vais continuar a regressar, sempre, ao lugar onde foste infeliz."
domingo, 19 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
sei voar mas tenho as fibras tensas
"Ninguém é comum
E eu sou ninguém
No meio de tanta gente
De repente vem
Mesmo eu no meu automóvel
No trânsito vem
O profundo silêncio"
E eu sou ninguém
No meio de tanta gente
De repente vem
Mesmo eu no meu automóvel
No trânsito vem
O profundo silêncio"
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
precipício
fala-me de precipícios e eu te falarei dos desassossegos necessários pra traçar um caminho. fala-me de caminhos e eu te falarei de precipícios. eis que me encontro na frente do precipício outra vez, buscando pouso.
se não há pouso pra pausa, não me esquivo de precipícios. se encontro medo, sigo. o tempo passa. as pernas tremem. o corpo cansa. o medo vai. escolhi um caminho que percorre precipícios. a cabeça vai ter que descansar no escuro. de olhos fechados, do alto, avante, além. estico o braço e vejo o abismo. do abismo o céu. do céu meu corpo, meu despreparo. e já não mais vejo. e salto.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
ele diz o que eu quero dizer
luis filipe cristóvao, obrigada por voltar a escrever. você transcreve o que pra mim ainda não virou palavra.
ufa!
ufa!
"sendo o corpo a entidade que treme, tudo o resto é multidão. não há olhares que meçam a possibilidade do choque, estamos tão bem escondidos, tão difíceis de identificar, tal como estamos expostos a todas as surpresas. caminhamos assim entre duas verdades, não encontrando qualquer conforto na proximidade assim conquistada. ainda assim, o corpo, sim, o corpo, é a entidade que treme. pequenos tremores de terra passam despercebidos em todo o mundo, a cada minuto que passa. o que não dizer dos tremores dos corpos. à volta, a multidão. a multidão comendo refeições rápidas, olhando os relógios, conversando dos empregos, dos problemas de sempre. a multidão com fato e vestido, uniformizados para as sessões laborais do reino. passamos despercebidos, tu e eu? passaram, quem sabe, ignorados, os nossos olhares. o corpo, esse, treme. o corpo treme. as palavras não explicam. as memórias não resolvem. o aparelho não regista. o corpo treme."
do blog dele: www.luisfilipecristovao.blogspot.com
amanhã
tem sido difícil escrever, rabiscar meus caminhos. resta dúvida. inconstância. imprecisão. não sei por onde apontar meu coração. é piegas, mas é isso. queria encontrar uma maneira de ser inteira sem ser sozinha. ou talvez um jeito de ser junto sem perder a dimensão do meu tamanho. e qual é ele? sei lá. do meu tamanho já não sei, apenas pressinto desejos e um tempo que já é outro lugar. minha desorganização tem sido assustadora. sinto-me devorada pelos livros, pelos cabides, pelos papéis da sala e pelos cheiros de ontem. não compreendo qual aresta deixei de aparar e que me tornou assim, tão desigual. aonde foi que perdi o fio da meada? apesar de tudo, resta um amor tão sincero pelas coisas que é ele e somente por ele que me guio. será possível que algum sinal me aponte a direção? é por aqui? hã?
espero sem esperar. e acredito, de olhos fechados, que algo novo bem novo do mais novo velho virá. assim. já.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
você perdeu
| foi você quem se perdeu de mim |
| foi você quem se perdeu |
| foi você quem perdeu |
| você perdeu |
e quem quiser ouvir: http://letras.terra.com.br/maria-bethania/1561374/
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
?
o que me irrita no mundo contemporâneo é que a gente é permissivo demais.
tudo pode.
sei não: quem disse que ser permissivo não é ser perverso?
terça-feira, 10 de agosto de 2010
corpo retalho
"Nossa arte é feita de restos. São aproveitamentos de materiais e passarinhos de uma demolição. Acho que quando escrevi isso eu falava da realidade do mundo. Me referia às injustiças enquistadas no corpo do velho mundo, que era preciso destruir. Me referia às estruturas podres da civilização. E penso que é com restos dessa civilização que estamos fazendo arte hoje."
Manoel de Barros.
terça-feira, 27 de julho de 2010
experimento devaneio sem consistência
estou só
no quarto, na esquina, na cama de hotel
na estrada vazia, na rua, na lua
na voz, na caixa, na rota, no jota
na estória, na música, na insônia
na chuva, na chama, no cheiro
na casa, no caso, na escada
na espera, na escuta, no sítio
no rádio, no tédio, no prédio
na lápide, na pirâmide, no porão
na tríade, na direita, na esquerda
no alto, avante, no antes
no instante, no entanto, no medo
no riso, no risco, no rútilo
no útil, no pronto, no canto
no escombro, no milímetro, no gesto,
no resto, no escuro, no mínimo,
no justo, no incerto, no sujo
no espelho, no espírito santo
no espaço, no espasmo, no palco
no pouco, no pulo do gato
no gosto, no ganho, no grude,
no susto, no cisco, no lírio
na fala, na lida, na lança
na dança, no dia, na noite
na arte, na tarde, no ano
na certa, na nota, no vidro
no grito, no sim, no também
no mesmo, na mesma, nação
no espirro, no estudo, no então
no colo, na concha, no peito
na palma, no seixo, no chão
no quarto, na esquina, na cama de hotel
na estrada vazia, na rua, na lua
na voz, na caixa, na rota, no jota
na estória, na música, na insônia
na chuva, na chama, no cheiro
na casa, no caso, na escada
na espera, na escuta, no sítio
no rádio, no tédio, no prédio
na lápide, na pirâmide, no porão
na tríade, na direita, na esquerda
no alto, avante, no antes
no instante, no entanto, no medo
no riso, no risco, no rútilo
no útil, no pronto, no canto
no escombro, no milímetro, no gesto,
no resto, no escuro, no mínimo,
no justo, no incerto, no sujo
no espelho, no espírito santo
no espaço, no espasmo, no palco
no pouco, no pulo do gato
no gosto, no ganho, no grude,
no susto, no cisco, no lírio
na fala, na lida, na lança
na dança, no dia, na noite
na arte, na tarde, no ano
na certa, na nota, no vidro
no grito, no sim, no também
no mesmo, na mesma, nação
no espirro, no estudo, no então
no colo, na concha, no peito
na palma, no seixo, no chão
segunda-feira, 26 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
rumo
o amor me deu as costas de novo, mostrando que um caminho se faz por duas pernas sozinhas, em silêncio. as pernas vão em frente, o amor de costas. talvez num certo momento as pernas possam virar que nem curupira, em direção às costas, que estão sempre atrás. talvez não. talvez o que se tenha pra fazer é sempre caminhar pra frente, em linha reta, abraçado por uma seqüência de árvores.
sábado, 17 de julho de 2010
domingo, 11 de julho de 2010
as coisas migram e ele serve de farol
caetano agora escreve no O Globo e eu leio semanalmente. encontro ali, aos domingos, o artista que não morre nunca.
*"chão é céu / e é seu e meu / e eu sou quem não morre nunca." - zera a reza, caetano veloso.
silêncio, por favor
ontem cantei com a voz que não é minha, na rouquidão do tempo que meu corpo não conseguiu acompanhar. ele foi até o limite do limite e agora pede clemência: silêncio e pausa.
pelo meu descompasso recebo abraços e sorrisos. um carinho me é devolvido, como se fosse por ele que eu acordasse altiva todas as manhãs - e talvez seja.
se meu corpo não é mais meu corpo, por onde sigo agora? "qual a tua estrada, homem?" - foi Hilda que me disse isso um dia, embora eu seja mulher.
sigo em silêncio pelo caminho da voz, em tropeços. faz parte de mim uma solidão que já não tem nome. um homem ao piano disse que devo me perguntar todos os dias por onde seguir e que a resposta estará no meu silêncio.
dentro de mim, eu sempre soube que o rumo a seguir é o da palavra. a palavra crua: maior do que sobretudo o verso. ainda assim, será preciso encontrar a fermata exata pra poder lançar mundos no mundo.
luis filipe cristóvao disse e eu concordo (especialmente hoje)
"sim, ainda sabes sorrir para os outros, mas tão pouco. algures a tua paciência esgota-se ao mesmo ritmo que a caipirinha no copo. cumprimentas alguns conhecidos, trocas palavras de ocasião. sim, ainda sabes sorrir, mas de que te vale isso. a caipirinha vai do copo para o efeito, e a cabeça fica sem espaço para cedências. sim, sim, isso tudo, sorri e foge, enquanto é tempo. em casa sabes que podes ser anti-social à vontade."
de luis filipe cristóvao.
terça-feira, 6 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
poeira
gostaria de ter te mandado flores.
qualquer agrado, talvez.
procurei na multidão, vi alguém de óculos enxugando os olhos.
estranho você ter me visto tanto se eu não te vi.
ali eu era nua. você era óculos.
alguma coisa fica, na promessa dura de coisa não vivida.
na vontade que virou engano que virou cisma.
..........................................................
ontem a gente compreendeu, pela primeira vez, o silêncio.
qualquer agrado, talvez.
procurei na multidão, vi alguém de óculos enxugando os olhos.
estranho você ter me visto tanto se eu não te vi.
ali eu era nua. você era óculos.
alguma coisa fica, na promessa dura de coisa não vivida.
na vontade que virou engano que virou cisma.
..........................................................
ontem a gente compreendeu, pela primeira vez, o silêncio.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
espuma
achei que estava sozinha.
não estou, nunca estive.
ao lado dos passos existem mãos que acolhem, empurram e dizem
vai, vai, vai
como na canção de vinícius
como no canto primeiro
como no canto guia
vou
----
vôo.
não estou, nunca estive.
ao lado dos passos existem mãos que acolhem, empurram e dizem
vai, vai, vai
como na canção de vinícius
como no canto primeiro
como no canto guia
vou
----
vôo.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
pra ninguém
hoje senti raiva. senti muita raiva. de estar sozinha nessa. com todas as mãos que se reúnem em volta, estou sozinha nessa.
sozinha no círculo do mundo que só eu pertenço - ninguém vem dividir os cômodos.
|ninguém.|
sozinha no círculo do mundo que só eu pertenço - ninguém vem dividir os cômodos.
|ninguém.|
sexta-feira, 18 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
lá
vem
eu vou pousar a mão no teu quadril
multiplicar-te os pés por muitos mil
fita o céu
roda:
a dor define nossa vida toda
mas estes passos lançam moda
e dirão ao mundo por onde ir
quinta-feira, 3 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
até agora
Dia frio, onze graus. Falta quase um mês pro que tanto espero. Desespero. Disparo. Discorro.
Sigo.
Das janelas do meu carro vejo somente homens de gravata e chapéu. Mulheres gordas. Velhinhos sujos. Ônibus, outros carros, ruídos de um interior que teima em ser cidade. E já é.
É quase hora de ser gente grande. Seguir nesse caminho soa duro. Tomarei as rédeas mesmo assim, tomando cuidado pra não atravancar o coração.
Luis Filipe Cristóvao me arrebatou novamente essa tarde. As palavras dele cabem milimetricamente na minha boca. Quase desejo tê-las inventado.
Invento silêncios, movimento puro. Sinto tanto medo que suponho já ter virado coragem. Medo do medo que não há mais.
O ano começou intenso. Na divisão exata entre amor e dor. Na experiência não narrável do encontro. Na decepção absoluta - pisaram sobre a minha cabeça às gargalhadas.
Sigo Belíssimo horizonte, São Paulo é como o mundo todo.
Ainda planejo morada futura, apesar dos paulistas. Talvez não: apesar dos mineiros. Talvez assim: apesar de mim.
Tem começo um novo instante, quando o corpo já não é mais corpo, as palavras já não são as palavras, e o que sou já é outra coisa.
É isso que assusta tanto. Apesar da coragem.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
amargo abril
"Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome."
Dois ou três almoços, uns silêncios - Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".
Caio Fernando Abreu
pensamento aleatório e sem poesia
>drinking champanhe by myself
Ando incentivando as pessoas a beberem champanhe sozinhas. Não que eu esteja levantando uma bandeira em prol da solidão. Não, não e não. Só acho que a gente não precisa depender de outros pra fazer as coisas boas da vida.
Tim tim!
sexta-feira, 21 de maio de 2010
grito da montanha
é tempo de hipocrisia
de sujeira debaixo dos panos
de solidariedade no câncer
é tempo de absoluta mineirice.
(e, nesse tempo, não me encontro mais.)
de sujeira debaixo dos panos
de solidariedade no câncer
é tempo de absoluta mineirice.
(e, nesse tempo, não me encontro mais.)
quinta-feira, 20 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
trabalho solo
a escolha de estar sozinha no palco é assumida aos poucos. cada dia é um novo teste. já não cabem outros para esse instante essencial - os outros terão que ser vozes de uma única voz: a voz-guia.
a voz deve ser assumida. o corpo deve ser assumido. arte e vida já não são distintas.
começa-se aprendendo a fazer teatro. ao longo dos anos, é preciso aprender a não fazê-lo.
terça-feira, 11 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
quinta-feira, 6 de maio de 2010
bolhas
Ganhou uma garrafa de champanhe de presente de aniversário. Guardou com cuidado dentro do armário velho. "É pra tomar um dia, com alguém especial." Deixou passar um mês. Nesse mês passaram-se coisas. Amigos, promessas de amigos, amores, promessas de amores. Era ela quem abria e fechava a porta, todos os dias. Depois de um dia de trabalho intenso, chegou em casa querendo usufruir do presente. O dia estava como todos os outros, nada em especial. Sem pensar muito, abriu o armário, pegou o presente, bebeu feliz. A melhor companhia pra tomar uma garrafa de champanhe era ela mesma.
= parafraseando levemente meu amigo que ganhou uma latinha de refrigerante jesus.
domingo, 2 de maio de 2010
lógica atual dos afetos
É demasiadamente estranho, demasiadamente triste, que depois do sim, depois do não, depois do quase, reste apenas um silêncio espesso. Um silêncio duro. Um silêncio autoritário. É demasiadamente difícil aceitar que os encontros sejam tão descartáveis a ponto de desaparecerem como se nunca tivessem existido e que, assim, obriguem-nos, como manda a conduta vigente, a também silenciar.
domingo, 25 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
linha cruzada
Ele telefonou na quarta feira que não era de cinzas. Ela atendeu. Ele falou dramático. Ela riu. A dor já havia passado. Agora eram novos tempos. Ele falava de trabalho. Ela sabia que ele não queria falar só de trabalho. Ela escutou e fingiu que também só falaria de trabalho. Ela foi irônica. Ele assustou. Ela foi até a cartomante. Ele disse que ia ligar de novo mais tarde. Ele não ligou. Ela já sabia que ele não ia ligar mais tarde. Ela estava ficando esperta. A cartomante falou com ela que ela tinha que se cuidar. Ela sabia que era verdade mas achou que a cartomante exagerou. Ela não gostou da cartomante. Ela pensou nele. Ela não sentiu saudades dele. Ela pensou então em outro. Ela agora gostava mais desse outro do que do primeiro. Esse outro não telefonou pra ela. Ela queria muito telefonar pra ele. Ela se conteve. Ela escutou bem a cartomante a analista a mãe e a melhor amiga. Todas elas falaram pra ela que ela tinha que se conter. Ela obedeceu um pouco. Esse outro disse da última vez que encontrou com ela que ele estava mal. Ela não entendeu muito. Ela respeitou ele. Ela deixou passar uns dias e ela falou com esse outro no telefone. Ele disse que talvez ia ligar de novo mais tarde. Ele também não ligou. Ela também já sabia que ele não ia ligar mais tarde. Ela sentiu preguiça. Ela foi encontrar com o melhor amigo dela no parque. Ela contou as coisas pra ele. Ele riu. Ele contou outras coisas pra ela. Ela riu. Ela ficou muito feliz de ter aquele amigo que era ele. Ele também ficou bem feliz de ter aquela amiga que era ela. Ele achou que a estória dela podia virar poesia. Ela achou graça. Eles foram ouvir uma boa música. Ela dançou. O telefone não tocou mais naqueles dias. Ela achou melhor. Ela estava cansada de linha cruzada.
terça-feira, 13 de abril de 2010
domingo, 11 de abril de 2010
sobre o teatro e seu trabalho silencioso
Há quem acredite que o teatro tem a ver com a mentira. Eu quero acreditar em um teatro que tenha a ver com a verdade. À representação digo: não. Desejo ser.
[ "Sinto-me livre para fracassar" - Hilda Hilst. ]
quarta-feira, 7 de abril de 2010
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