sexta-feira, 1 de outubro de 2010

porta-retrato

ali onde a canção começa, na caixa antiga da memória, na poeira, é que encontramos restos de nós. restos quase esquecidos de tanta solidão, por tanto tempo vivemos mergulhados no silêncio. agora parece que um calor novo habita, um punhal de cores, como se guardássemos saudades em saquinhos compactados em sachês que hoje explodiram. e de novo uma palavra ganha sentido, um olhar que enxerga, um abraço apertado, um mimo. de novo um afeto que tinha se perdido na demanda dos dias, nos desasossegos, no endurecer do nosso coração ganha corpo. é como se ganhássemos corpo de novo e finalmente fosse possível o abraço. o abraço prometido, o abraço que ainda não foi e ainda será, por completo. é como se depois de tanto tempo uma gargalhada cortasse o corredor em estrondo e nos fizesse ouvir: "existimos". e assim iremos abrir as janelas, as portas, as gavetas, deixando que o ar invada o espaço em tons de vermelho, povoando a sala  com novos cheiros, uma nova vida habita essa casa.
estamos vivos, meu deus, estamos vivos.

Nenhum comentário: