quarta-feira, 28 de outubro de 2009

sachê

::: saudades deviam ser compactadas em saquinhos
pra poder guardar sumir encher
e estourar pro alto de vez em quando :::

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

domingo

Era domingo, acordou tarde e se encontrava sozinha. Sozinha: estado ou instante em que não há outro por perto. Engraçado pensar nisso: não há outro por perto. Dentro de casa, em volta da mesa, completamente sozinha e tantas vozes e palavras povoando a mente.

Vestia um vestido verde, completamente verde como se o próprio fato de ser verde justificasse sua solidão. Ela não gostava da palavra solidão porque achava essa palavra muito pesada e jamais se sentira assim. Estava sozinha, era fato, mas não havia tristeza nisso. Caso contrário jamais estaria de verde e muito menos de vestido.

Toda manhã sigo o mesmo ritual. Lavo o rosto com água gelada pra desinchar os vazinhos das laterais do rosto. Bebo um copo d´água, depois um chá, depois outro copo d´água. Aprendi com os japoneses a hidratar a pele logo cedo pois, desse modo, não fico muito vulnerável aos baques do dia.

A casa vazia, o vestido verde e milhões de palavras povoando a mente. Sentia saudades de muita coisa que não conseguia nomear. Se sua mãe estivesse por perto e a visse deste modo, alimentando saudades logo pela manhã, em pouco tempo surgiriam palavras reais repressoras. A mãe, abraçada com a bandeira da ordem, falaria pra ela deixar de bobagem e ir logo comprar laranjas e ovos, passar um pano na sala ou dar comida aos cachorros. O fato é que não havia cachorros. Nunca.

Não gosto muito de me perder em pensamentos nostálgicos, mas deve haver algum motivo pra algumas coisas estarem tão silenciosas. Lembro de um tempo atrás não tão longe assim, havia um peito inteiro ocupado de estórias. Algo como um começo, meio e gran finale com chuva caindo. Um calor imenso. Estranho tudo ter ficado tão verde.

Pensando na mãe que não estava, resolveu deixar de bobagem e ir logo comprar laranjas e ovos. Havia uma coisa de muito especial na ida até a feira. Sentia-se personagem de um típico filme francês, as mãos ocupadas com sacolinhas coloridas cheia de sabores cítricos. O encontro com velhinhos nas filas, a luz da manhã, a alegria virgem. Era domingo e estava viva. E isso haveria de ser um grande motivo.

Eu gostaria verdadeiramente de pensar um pouco menos a respeito das coisas, mas é fato que existem saudades não nomeáveis. Não acho que seja o caso de consultar um dicionário. Também não sei se valerá à pena pedir ajuda. Qualquer pessoa seria simplista no assunto. Não há tristeza. Não há dor. Não há lágrima.

Era domingo, estava sozinha e tinha nas mãos sacolinhas cheias de laranjas e ovos. Podia optar por um grande almoço ou pela experiência da fome. Lera uma vez no jornal sobre um senhor de 80 anos que havia escolhido ficar exatamente 1 semana sem comer. Não estava doente nem doido, apenas queria ter uma semana límpida e vazia de excessos. Parece que depois disso o senhor começou a enxergar o mundo sob uma outra perspectiva. Gostou disso. Viveu como nunca e deixou o mundo da forma mais completa possível.

Está sem lugar? Sente saudades? Não há melhor recomendação do que essa: abrace seu travesseiro. Por longos minutos, abrace-o com toda integridade que conseguir. Feche os olhos e celebre o fato de conseguir ser inteiro no seu contato com o objeto que protege sua cabeça todas as noites. Celebre o fato de conseguir abraçar mesmo sem ser abraçado de volta.

Decidiu por não passar fome, as laranjas e os ovos estavam muito bonitos para isso. Esquentou a água da panela e enquanto colocava os ovos pra cozinhar, preparou um suco com todas as laranjas que trouxera. Um grande banquete: a maior variedade possível a partir de dois alimentos. Um estado de graça, a comida. Uma alegria.

Algumas vezes sinto um tremendo despeito pelos domingos. Fico irritada com o fato de todo mundo estar tão desocupado e, ainda assim, mostrar-se cheio de afazeres. Não é justo. Domingo é para ser livre. Desliguem os relógios, apaguem as luzes, fechem os olhos. Respirem fundo.

Terminou o banquete e sorriu da maneira mais bonita. Não havia muito mais o que fazer naquele dia. Era domingo, acordou tarde. Olhou em volta, continuava sozinha. Ainda assim, tantas palavras e vozes povoando a mente. Saudades não nomeáveis, o vestido verde, o travesseiro amassado ao lado. Entendeu sem entender o instante do mundo em que se encontrava. Cansou de agitar a cabeça, resolveu agir. Abriu as janelas da casa.

Deve haver alguma espécie de sentido ou o que haverá depois. Talvez eu não esteja suficientemente informada a respeito do percurso de algumas coisas essenciais. Talvez isso tudo seja uma grande bobagem e, se assim for, é ainda melhor.


*** para miranda july.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

acrílico

Ainda canto o ido o tido o dito
O dado o consumido
O consumado
Ato
Do amor morto motor da saudade

terça-feira, 6 de outubro de 2009

filosofia do porquinho




"o que eu penso sobre namorar? ....

...
...
...


já viu chiqueiro? como os porquinhos ficam?
os que estão dentro tão com o focinho pro lado de fora. os que estão fora tão com o focinho pro lado de dentro."