sexta-feira, 17 de agosto de 2007

palavras da andorinha


"Eu me apego ao amor pra compensar todas as outras coisas que sei que não sei fazer. Esse mecanismo que a gente aprende: amenizar as falhas."





sexta-feira, 10 de agosto de 2007

"mil perdões"

Eu estou aqui para te pedir perdão.

Sem moralismos, sem demagogias, sem fingimentos, venho te pedir perdão por tudo isso e um pouco mais, e são tantos issos e tantos mais que tudo parece não caber nessa pequena palavra - palavra tão sonora, tão pesada: Perdão. Palavra pesada que busca leveza. Já disseram por aí que “é preciso ser leve como o pássaro e não como a pluma” e isso talvez signifique que para se alcançar a leveza é necessário uma espécie de vôo para um outro espaço, outro instante, outra ótica. Outra perda? Preciso pedir perdão para me tornar mais leve.
Diante disso tudo e um pouco mais, peço antes de qualquer coisa, perdão por isso: o demais. Os mais velhos sempre me alertaram: “É bom evitar os excessos” e eu, desde menina, cheia de vontades, decidi que seria muito. Sempre muito. E assim fui muita coisa, mergulhei em tudo que queria mergulhar. Mergulhei você.
Você também queria ser muito e nunca conseguiu. Havia em você uma falsa vontade de querer algo, qualquer coisa, e nada. Você nada queria. Assim, talvez por causa disso, resolvi pra mim mesma que viveria tudo quase em dobro, em triplo, para compensar as suas fraquezas em querer.
O desejo perigoso de se lançar fez com que eu me lançasse a você e a tudo. Perdão: foi demais. Queria te ter por inteiro, queria que me tivesses por inteira. Queria que você conseguisse tudo aquilo que pudesse, em algum instante, querer.
Perdão. Você nunca quis nada.
Depois dum mergulho tão fundo você passou a querer menos ainda as coisas. Se já nada queria, passou a negar até isso mesmo: o nada. Perdão. Eu sempre tive essa mania de querer preencher o “nada” com poesia.
Em tudo ou nada, sempre o mesmo, os mais velhos me alertavam: “É bom evitar os excessos. Não se pode doar por inteiro para ninguém”
Preciso pedir pra me tornar mais leve: Perdão.


E agora, um vôo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

os amantes

Começou num abraço. A partir do gesto, tão simples e tão de repente, fez-se uma virada que logo se seguiu no resto que viria adiante. Ele apareceu pra curar Ela ( e Ela para curar Ele também ). Ela guardava consigo todas as feridas do mundo – feridas de um amor incurável – e Ele guardava os ouvidos, os olhinhos pequenos, os cabelos fartos e os braços. Os braços estendidos. E ali, naquele início que começava pelo colo, Ele quase se esquecia da ferida que também precisava se curar – ferida de um amor. Incurável?
Começaram assim, pelo colo, pelos braços, pela cura de ambos. Cúmplices de uma mesma dor, de um mesmo sentimento intangível, consolavam-se juntos, pouco a pouco. Um no colo do outro, braços entre-laçados, lá estavam os dois a compartilhar feridas abertas. Ele soprava a ferida Dela com uma lentidão que a acalmava. Ela apenas sorria para Ele - e isso era tudo.
Compartilhavam as feridas e assim iam também compartilhando braços, beijos, sonhos, sonos, idéias, olhares, toques, melodias, silêncios. Se entendiam muito bem durante as conversas. Se entendiam melhor ainda nos silêncios.
À medida que iam se entendendo, iam também se adorando, mais e mais. Porém, mesmo um precisando tanto do colo do outro, tanto Ela quanto Ele colocavam ali um limite de envolvimento, uma linha tênue quase-transparente que os impedia de ir muito adiante – ainda não estavam curados. Ambos sabiam que tinham se conhecido apenas para isso mesmo – a cura – e não podiam nem deviam ir muito além. Ele não era pra Ela. Ela não era pra Ele.
Leveza. Tinha ali algo quase melhor do que o amor: cumplicidade, carinho, colo, abraço. E mais: a linha tênue quase-transparente impedia qualquer mergulho. Ele adorava Ela. Ela adorava Ele. E os dois se guardavam no ar, longe do sofrimento. Cúmplices amantes que não podiam se amar.
Se enchiam de abraços: um abraçando a dor do outro, outro curando a ferida de um. Ela só gostava de conversar com Ele. Ele só queria confiar Nela. E os braços de ambos se mantinham fora d´água.
Iam se adorando no calor dos braços entre-laçados e dos sorrisos.
Até que teve um dia.
Choveu. Tempestade. Se entenderam demais. Os abraços se tornaram muito apertados, sufocantes. Um movimento atípico no peito revelava tanto para Ele quanto para Ela a possibilidade de perigo. Insegurança e medo. A linha tênue já não era quase transparente e sim, quase colorida, quase azul. Os sábios dizem o tempo todo: é azul a cor do amor.
Oceano. Justamente à partir daquele ponto começava-se a avistar, cada vez mais de perto: tanta água.
A água inundou. Inundou os ouvidos, os olhinhos pequenos, os cabelos fartos Dele. Inundou o sorriso Dela. Os abraços ala(r)gados se debatiam contra a possibilidade do mergulho. Tarde demais, água demais.
Nunca mais Ele curaria Ela. Nunca mais Ela curaria Ele. O medo de uma outra ferida fez com que cada um seguisse o curso de seu próprio rio e os braços se repartiram, cada um pro seu lado.
Separaram-se em ilhas. Ela, com seu sorriso. Ele, com os olhinhos pequenos demais para enxergar o tamanho do oceano.
Sem os braços dados, às vezes se escutam. Quando alguma ferida ameaça se abrir, Ele acena pra Ela, Ela sorri pra Ele. Se entendem muito bem - melhor ainda nos silêncios.
Cada um segue o curso de seu rio fingindo não se dar conta de tanta água. Mantêm-se secos – cúmplices amantes que não podem se amar.
No entanto, quando estão sozinhos, cada um na sua ilha, param de fingir pro mundo: gotinhas minúsculas escorrem pelos braços de ambos.
Ele com seus olhinhos. Ela com seu sorriso.
Inundados.
Incuráveis.