domingo, 27 de julho de 2008

ser dois

Qualquer tempo que tivéssemos seria Insuficiente.
Um tempo justo pra nos tornar mais juntos.
Um tempo junto pra caber nos braços.
Eu atrás de braços que não sei de onde
Me aquecem.
Me esquecem.
Vontade de sentir que as mãos vão juntas
Uma querendo a outra como se quer o outro
E pronto.
Sem tempo pra pensar demais
Vontade de arriscar querer sentir de novo
Sentir que se tem um outro
E que é o que é
E ponto.

terça-feira, 8 de julho de 2008

))<>((

"e se realmente gostarem? se o toque do outro de repente for bom? bom, a palavra é essa. se o outro for bom para você. se te der vontade de viver. se o cheiro do suor do outro também for bom. se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. o pé, no fim do dia. a boca, de manhã cedo. bons, normais, comuns. coisa de gente. cheiros íntimos, secretos. ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. e se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? quando você chega no mais íntimo, no tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. você também tem cheiros. as pessoas têm cheiros, é natural. os animais cheiram uns aos outros. no rabo. o que é que você queria? rendas brancas imaculadas? será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. o amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. se amor for a coragem de ser bicho. se amor for a coragem da própria merda. e depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. o que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. porque então você se ama também."


(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 1 de julho de 2008

do se dizer adeus

Esperar por você é esperar Godot.
Seus olhos, seu cheiro, seu medo, sua boca. Não passam de ilusões que têm me mantido com alguma perspectiva.
Sem perspectiva, vejo de perto. Sua condição será essa, sempre.
Inútil esperar mais dos seus sorrisos e abraços, sendo que eles jamais passarão de sorrisos, e de abraços.
Aos poucos percebi que você nunca virá.
Que rufem os tambores no silêncio do seu nome.


Não te espero mais.