quinta-feira, 30 de junho de 2011

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a-mar é verbo pra se conjugar em liberdade, que nem o oceano

aurora

Olhou através da janela. Viu o mar. As palavras me têm de regresso. Volto a construir frases, enigmas. O coração se refaz devagar, pétala por pétala, uma a uma. Ele foi embora deixando um par de sapatos, um gosto amargo e alguns acordes. Ela olhava pela janela como quem já não mais compreendia. Olhava fundo e nada via. Nenhum vestígio, só silêncio. E era tudo tão claro, desde o início. O horizonte, o mar e a maré. Da janela já não se via mais o infinito, enxergava limite. Limite do vidro da janela. Limite de um tempo que passou. E o fim acabou virando verdade. Mais rápido do que o imaginado, mais leve também. E as coisas seguiam como água que escorre pelas pontas dos dedos, num fluxo contínuo, num passo diante do instante, mais terra que água, menos música, menos dor, mais abraço. E os braços escorriam leves pela madeira que contornava a janela de frente pro mar. E a brisa invadia os espaços e o mar ainda era imenso. E o azul se confundia com o céu que desaguava no sol que refletia no vidro gasto da janela semi-aberta. E pela janela se abria um mundo vasto. Sem fronteira.

terça-feira, 28 de junho de 2011

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hoje meu corpo chora.
disfarça e chora.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

sábado, 25 de junho de 2011

nuvem

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"Quando a gente se machuca, é que se dá conta de que tem um corpo. Assim como a borboleta ou como a cabra E que tudo o que se é está reunido aqui: nessa cabeça, nesse pescoço, nesse tronco, nesses braços e pernas. Aqui, sob a pele – isso que se abre -, na carne – isso que se corta -, nos ossos – isso que se quebra.  E que tudo o que se é quebra-se com a pele, com a carne, com os ossos. E que tudo o que se é morre aqui mesmo, como esse origami, aqui, esmagado pelas patas deste automóvel, aqui, nada, ninguém, nunca mais."

alicia penna e rosângela rennó, livro "espelho diário".

quarta-feira, 22 de junho de 2011

lava a alma



querendo

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não em mim

terça-feira, 21 de junho de 2011

letuce

"se for pra voar, que seja à pé"

segunda-feira, 20 de junho de 2011

doce presente

"Pode ser que as reflexões muito amargas, quando encheram alguma medida inconcebível, acabem por entornar o coração? É possível que a duração mística e dupla esgotara sua substância de maus sonhos e que ela regressasse do infinito; e é possível que o tempo chegasse perto, em segredo, através de nossos tristes pensamentos, de nos olhar no rosto? Já realizávamos distraidamente o sonho de nos sorrir: Ah! se fosse possível! E fazíamos a cara que nos correspondesse, e pressentíamos o limiar delicioso das lágrimas nascentes. Bastam então aos vivos, que tinham se acreditado eternamente separados, um encontro dos olhos, para que se descubram imediatamente um na alma do outro. Eles reconhecem que aí são deuses, donos de vida e das verdades; e esses deuses mútuos trocam olhares, e põem-se instantaneamente de acordo sobre a necessidade de suas existências!

(O que sou verdadeiramente em ti subitamente me vê por teus olhos) 

(A voz de um fala no outro, e o outro não pode impelir de fazer-se ouvir)"


Paul Valéry.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

cena fulgor

"coisas que se perdem quando são pintadas
- a polpa fresca da fruta
- as asas de um anjo
- as flores da cerejeira
- a luz do sol atrás dos ramos
- o branco da folha de papel
- qualquer cena fulgor"

quarta-feira, 15 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

tyronne street

hoje

hoje é dia de lembrar que o amor não é nada daquilo que você pensava que era
( ou supunha )

quarta-feira, 8 de junho de 2011

suspiro


vertente

declive: uma palavra bonita. declive: uma palavra que sequer vai esgotar nossos dias, que nem de longe precisam de música, nem de silêncio, só de poesia. pelos dedos escorre a promessa do dia que virá, sem anseio, sem vertigem, sem pressa. pelos dedos escorrem estórias antigas, gastas de conversa e melodia, e dois corações encharcados de mágoa encontram alento na saudade recente. na saudade nova. na saudade gostosa. não é de se prometer juras de amor, nem de querer mais abraços que os braços podem dar conta. não é de se telefonar a todo tempo, nem de estender lençóis brancos nas janelas. é de olhar pro agora, construir passo a passo, sem reza, sem patuá. 
é de respirar em uníssono. o que é já está.

terça-feira, 7 de junho de 2011

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meu coração vai fazer
revolução

sexta-feira, 3 de junho de 2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

luis filipe cristóvao

"Sempre chega um dia onde percebes o que é um círculo. Um círculo é onde os componentes se respeitam. Onde as partes se conhecem. Onde um olhar chega para perceber o que está bem, o que está mal. Um círculo é onde há lugar para crescerem  E vidas. A tua vida. O círculo não é apenas o que está próximo. É o que está dentro. E até o que está dentro pode estar em muitos lugares. 

Sempre chega um dia onde percebes que o teu círculo é muito pequeno. E depois um outro dia, onde encaras que o teu circulo é ainda mais mínimo. Inspiras forte, piscas os olhos. Custa-te um pouco. Mas segues em frente."



o jardim branco