segunda-feira, 20 de junho de 2011

doce presente

"Pode ser que as reflexões muito amargas, quando encheram alguma medida inconcebível, acabem por entornar o coração? É possível que a duração mística e dupla esgotara sua substância de maus sonhos e que ela regressasse do infinito; e é possível que o tempo chegasse perto, em segredo, através de nossos tristes pensamentos, de nos olhar no rosto? Já realizávamos distraidamente o sonho de nos sorrir: Ah! se fosse possível! E fazíamos a cara que nos correspondesse, e pressentíamos o limiar delicioso das lágrimas nascentes. Bastam então aos vivos, que tinham se acreditado eternamente separados, um encontro dos olhos, para que se descubram imediatamente um na alma do outro. Eles reconhecem que aí são deuses, donos de vida e das verdades; e esses deuses mútuos trocam olhares, e põem-se instantaneamente de acordo sobre a necessidade de suas existências!

(O que sou verdadeiramente em ti subitamente me vê por teus olhos) 

(A voz de um fala no outro, e o outro não pode impelir de fazer-se ouvir)"


Paul Valéry.

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