quinta-feira, 30 de junho de 2011

aurora

Olhou através da janela. Viu o mar. As palavras me têm de regresso. Volto a construir frases, enigmas. O coração se refaz devagar, pétala por pétala, uma a uma. Ele foi embora deixando um par de sapatos, um gosto amargo e alguns acordes. Ela olhava pela janela como quem já não mais compreendia. Olhava fundo e nada via. Nenhum vestígio, só silêncio. E era tudo tão claro, desde o início. O horizonte, o mar e a maré. Da janela já não se via mais o infinito, enxergava limite. Limite do vidro da janela. Limite de um tempo que passou. E o fim acabou virando verdade. Mais rápido do que o imaginado, mais leve também. E as coisas seguiam como água que escorre pelas pontas dos dedos, num fluxo contínuo, num passo diante do instante, mais terra que água, menos música, menos dor, mais abraço. E os braços escorriam leves pela madeira que contornava a janela de frente pro mar. E a brisa invadia os espaços e o mar ainda era imenso. E o azul se confundia com o céu que desaguava no sol que refletia no vidro gasto da janela semi-aberta. E pela janela se abria um mundo vasto. Sem fronteira.

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