quarta-feira, 2 de novembro de 2011

fluxo de afeto

pra você caberiam todas as vãs filosofias, as páginas gastas de um livro esquecido na estante do armário marrom, os jantares que não tivemos e ficaram na promessa. 
eu não sou mesmo boa em declarações de amor. falta em mim qualquer capacidade mais lenta de deixar o rio correr. é o urgir do instante que corrói, o medo de perder, alguma imagem familiar, um quadro antigo. talvez seja o medo da morte ou de qualquer coisa que se assemelhe. parece que estamos sempre caminhando pra lá. não sei aonde foram parar seus olhos, mas guardo os dois no peito como frame de uma fotografia. velha. previsível.
congelei seu sorriso na saudade. estive perto mesmo quando estive longe. outros vieram mas foi em vão, vieram e foram como se não tivessem jamais existido. não tem cabido mais emoção nos meus dias, nem ninguém. é você quem ocupa a paisagem de frente da janela. abri as portas e também o corredor de frente da varanda e também a cozinha e a mesa de centro e deixei que entrasse sem fazer perguntas. não esperava tanto mar e é engraçado que tenhamos chegado até aqui. meus passos se movem adiante além muito a frente do infinito e quando esperam sozinhos procuram os seus - pés. 
pra você caberia o silêncio se ele conseguisse ser tão denso quanto a minha vontade de te existir. na ausência de silêncio, façamos música. e deixemos que ela habite o nosso quarto escuro, trazendo mais vida pra dentro de casa.

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