domingo, 28 de março de 2010

sem lugar

Perdi alguma coisa que me era essencial. Alguma coisa preciosa, alguma coisa viva, algum estado ou lugar de onde é possível olhar e reconhecer.
Perdi alguma coisa que angariava grandes certezas. Perdi solos conquistados com prontidão. Perdi afirmações concretas. Perdi pessoas, amizades garantidas, promessas de amores.
Perdi o conforto, perdi a total pureza, perdi o sorriso infantil. Não se trata somente de crescer. Se trata de estar.
São muitos os lugares, muitas as pessoas e de toda a perda resta uma solidão quase incompreendida. É como se contar pro outro não adiantasse. É como se o que perco estivesse ao nível da experiência. Experiência essa que a cada dia atravessa o meu corpo, minhas pernas, meus olhos, minha boca, minha palavra. Vivência direta na pele. Não narrável.
Estou com os pés fincados em algum sítio incerto que aponta novos caminhos (incertos). Na mão direita há uma mala, na mão esquerda, uma gaiola. Elevo o pescoço em direção ao céu, peço ajuda aos antepassados.
Perdi alguma coisa que me era essencial. No peito restam qualidades quase opostas que coexistem juntas na direção dos passos. Medo coragem medo coragem medo coragem medo coragem medo coragem - em pêndulo.
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Há uma travessia a ser percorrida pelas minhas duas pernas, e somente por elas.

Um comentário:

amina disse...

a verdade é que o que nos faz mudar de lugar não é a coragem, mas o oposto a ela, q não é exatamente o medo.

a gente muda sem nem saber porque e sem nem querer, quando vê só acompanhou o fluxo do redor.e demora a entender