terça-feira, 19 de maio de 2009

abandono

Posso sentir: você vai me abandonar. Consigo perceber isso em cada milímetro da sua atitude, na maneira em que me olha, em que me dirige a palavra, em que me abraça em silêncio, no diz-não-diz-diz-diz-não-diz. Ensaio a cenografia do abandono. Preparo minha reação, as lágrimas correm com agilidade, visto a camisa de ontem, percebo a taquicardia, o olhar vidrado, a cor da solidão. Espero pela angústia tão única que só o abandono traz com toda a sua completude. Sua partida não demorará muito e por isso permaneço alerta. Olhos atentos aos passos. Pressinto sua despedida todos os dias, sonho com o nosso adeus - meu maior medo. Saio para dar uma volta, vejo as vitrines cheias de cores, na galeria, cada clarão. Me distraio pra disfarçar a certeza que tenho em segredo. Respiro fundo.
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Passa um tempo, surpreendo-me. Caminho pro outro lado.
Me desculpe, quem vai te abandonar sou eu.

Um comentário:

patricia mc quade disse...

me cai como uma luva esse texto ;)

e no mais...

não sei direito, mas acho que já te vi em alguma esquina de caminho por onde já percorri.

bj sujo de piche na
margarida de papel.