domingo, 7 de julho de 2013

alice

disse, alice, não sei que rumo tomar. se é pra direita, pra esquerda, minha cabeça quer fazer revolução, meu coração, não. disse, alice. alice não sabia se queria dia ou se queria noite. alice estava cansada de ser explorada no seu trabalho. mas alice também não tinha lá muito jeito pra trabalhar. alice tinha uma espécie de abismo no peito, uma ansiedade constante, um desejo tão grande de viver que às vezes quase sufocava a vida. não se desespere, visse, alice? ela escutava sempre. sempre tinha alguém sensato para lhe dar conselhos sobre ser calma, mas a verdade é que alice não aprendeu a ter calma, nem a ser serena, nem a ser plena. alice tremia, vibrava, urgia, desejava quase que sexualmente o mundo. era o impulso primeiro, pura invenção, apocalipse, vermelho, explosão, puro amor. alice gostaria de aprender a meditar, de observar as pessoas sem emitir uma opinião imediata sobre elas, de mastigar 20 vezes a comida antes de engolir, alice gostaria de fazer yoga, de falar clichês, de ter histórias da moda, de ser pós-moderna, quase frígida por não se abalar com nada, alice não gostaria de ser tão sensível, de chorar tanto, de ser tão à flor da pele, de explodir nas horas erradas, de engolir sapo, de suar as mãos, alice gostaria de ser organizada, de ter tudo com cheiro de hidratante cítrico, de controlar a alimentação, de conseguir parar de beber vinho antes de passar mal, de não se levar tanto a sério, de ser uma senhorita elegante. alice gostaria de ser simples, óbvia, trivial, comum, cara pálida.

mas alice urgia, urgia, urgia, urgia.

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