"Certo é que os gatos examinam com desteorias felinas os milagres da luz e da sombra, talvez possuam medidores de lusco-fusco nas pontas dos bigodes, com razão nos espantamos quando um gato sai de um lugar e vai para o outro, dissipando o lugar-antes, inaugurando o lugar-depois.
Os gatos: melhor só observarmos o que fazem-não-fazem — e isto é mais do que aula, é mais do que simpósio, é mais do que o vasto repertório curricular de-toda-uma-vida.
Hoje havia um gato em posição de-antes, a caminho de outra posição, a posição de-depois, numa ruela de Belo Horizonte. Guardei comigo a desfotografia deste instante. Gravei no despapel a aquarela do ato-movimento que ele fazia — muito igualzinho ao movimento de uma nuvem, pois nuvens costumam igualmente ser arremedos de gatos.
Fazer um poema: isto seria uma violência com o gato.
Fazer um conto: uma desfaçatez com o gato.
Observá-lo somente: puro júbilo."
paulinho assunção.
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