domingo, 18 de janeiro de 2009

no abismo das esquinas

"Talvez haja entre nós o mais total interdito
Mas você é bonito o bastante, complexo o bastante
Bom o bastante?
Pra tornar-se ao menos por um instante
O amante do amante que antes de te conhecer
Eu não cheguei a ser"

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

sofá silêncio

Eu, você em casa e aquele sofá. Uma festa em que não necessariamente fui convidada, ou melhor, fui, mas não fora um daqueles convites cor-de-rosa Bordeaux que quase gritam ao serem abertos com luzinhas e brilhantes "venha, sweetheart, venha". Não recebi convite cor-de-rosa mas fui, mesmo assim, disposta a encontrar de tudo e de todos e também porque muitos dali me faziam saudades há tempos, então fui, coração aberto, postura ereta, tentando ter o mesmo sorriso que tinha quando estávamos em dois, abro a porta e vejo você em casa e aquele sofá. Ninguém na festa saberia, pudera você, o quanto aquele sofá. Era sabido ali de um amor que não aconteceu, ou que aconteceu e teve medo. Todos os medos nossos, que nos distanciaram ou quiçá nos aproximaram por milhões e milhões de instantes.

Cheguei na festa querendo ser eu, absolutamente. Olhava pra todo aquele lugar como se não reconhecesse, ou como se tivesse bastante tempo, embora nem tivesse tanto tempo assim. As situações eram outras, eu era outra, você, outro. E também outras novas pessoas ali, que não existiam ou nem apareciam há um ano atrás. "Agir naturalmente, seja legal, tudo é completamente cool", era o que eu pensava quando me aproximava do sofá.

Todo esse tempo dizendo pra mim mesma que você nunca me significou um amor e que foi, na verdade, uma grande amizade, um companheiro, um vizinho pra quem se pede uma xícara de açúcar no fim da manhã, esse sofá já sabia que tudo isso era balela? Isso mesmo, balela. Quantas vezes a gente fingiu não querer nada? Quantas vezes a gente agiu como se nada de mais profundo entre nós existisse? Profundo é profundo demais, e não sei se é isso que eu quero dizer.

Estou confusa. O que queria dizer na verdade é que ao chegar naquela casa, de frente pra aquele sofá, todos aqueles outros em torno, tive um sentimento incômodo, uma espécie de angústia, nostalgia. Uma saudade. Essa saudade que eu sempre classifiquei no nível da amizade ou da carência, afinal, nada muito extraordinário tem me acontecido nos últimos tempos. Só que ali senti, era uma saudade de mim mesma, de alguma coisa que ficou lá atrás mal resolvida e mal falada e enquanto caminhava pela festa refletia: "existe algum tipo de relação que se resolve?" Relação também é forte demais, e eu não se é isso que eu quero dizer.

Eu sempre soube que o que existiu entre eu e você foi maior que namoro, que amizade, que relação, que. Pra mim é difícil classificar em palavras ou sentimentos o que eu sempre senti, só sei que um ano depois, nessa festa, nesse sofá, me dá assim uma falta. Conversar com você não é o mesmo e é como se minha palavras jamais te alcançassem, você também sente assim? E eu continuo fazendo piadas à todo tempo, vou te fazer rir pra que nada mais sério venha, nada mais.

Não me olhe nos olhos, não converse comigo sozinho, não me leve até a porta na hora de ir embora. Ela está olhando, ela não tem culpa nenhuma, ela é até doce, já disse à você que acho ela doce? Ela talvez seja realmente a melhor pessoa pra você. Ela gosta de você e não tem medo de dizer.

Só um amor não concretizado pode ser romântico.

Admitindo diante do sofá, sinto sua falta. E quero.