segunda-feira, 4 de junho de 2012

de frente pro inexplicável

olhava no fundo bem no fundo daqueles olhos. os olhos eram negros, da cor da pele e dos cabelos. olhava no fundo bem no fundo daqueles olhos e tentava tocar o intangível. desvendar a alma. o mais complexo confuso caótico que habitava ali.
não conseguia entender, já havia um certo tempo que tinha parado de entender as coisas. talvez tivesse apenas desistido de tentar nomear aquilo que não tem forma. nem cor. logo no início do fim, o que havia feito era isso - tentado encontrar as milhões de justificativas que a fizessem entender o porquê do fim. ou melhor: o porquê do não-começo. pois aqueles dois nem haviam começado. ou haviam? para ela, sim. para ele, a pergunta. a eterna pergunta.
para ela, ao tentar encontrar as milhões de justificativas, vieram muitas coisas: a culpa, a desordem, a dor no peito, a saudade, o medo da morte. tudo isso doeu, às vezes ainda doía. nenhuma resposta, nenhuma clareza. e ela foi lançada diretamente ao momento da vida em que se tem que lidar com o inexplicável. e era ali, de frente pro inexplicável, que se encontrava agora.
ela então havia parado de entender as coisas, mas ainda tentava olhar no fundo bem no fundo daqueles olhos que ela havia nomeado de amor. ela sabia que também podia estar confundindo as palavras e os sentimentos, quando se tem que lidar com o inexplicável as palavras podem não caber nas coisas. mas era aquilo que imaginava sentir. e imaginar é quase sentir. e sentir é quase acontecer.
olhava no fundo bem do fundo daqueles olhos esperando pelo momento em que o inexplicável não a arrebatasse mais. o inexplicável haveria um dia de se tornar menos desconfortável. mais possível. 
enquanto isso, o exercício era tentar lidar com o desconforto. com o vazio. com a pergunta sem resposta. com a não correspondência. com o olhar que não olhava de volta.
e ali, de frente pro inexplicável, ela tentava. diariamente.

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