quinta-feira, 23 de julho de 2009

Janelas

Janela um: Uma grande avenida de uma cidade feia. Milhões de árvores arrancadas no canteiro central. Sobram troncos. Um senhor que coloca uma cruz de madeira, feita por ele mesmo, em cada tronco – ou cada resto de árvore. Ele jamais foi à Igreja e também não sabe quem é Deus. Entende de madeira. Coisas feito dela.

Janela dois: Uma praça que dizem causar liberdade nos outros. Uma senhora gorda leva seu passarinho para passear. O passarinho dentro da gaiola, amarelinho, cor de vida inventada. A senhora carrega a gaiola para todos os cantos da praça, conversa com o bichinho, silencia, coloca-o próximo das árvores. Caminha até o chafariz, posiciona a gaiola de acordo com o lado em que a água atinge. O passarinho nada.

Janela três: Um homem sozinho que escreve letras de música. Nunca tocou um instrumento e também não conhece muitas canções. Nas letras que escreve têm um pouco de saudade, de abandono, de desejo, de sonhos, sonhos, sonhos. Ama uma mulher que não cabe em melodias. O homem cantarola em silêncio lamentos de um amor não vivido.

Janela quatro: Um senhor que gosta de ficar na porta do teatro escutando rádio. Jamais foi ao teatro e também não tem muita curiosidade, prefere mesmo é acompanhar a pressa das pessoas que entram e saem dali. Gosta de relacionar cada pessoa à alguma canção que escuta no rádio (mas isso ele não conta pra ninguém). Já foi convidado para vários espetáculos, nunca quis. Diz que tem taquicardia e não suporta locais fechados.

domingo, 19 de julho de 2009

branco, o rosto branco

Branco, branco, o rosto branco
Era calando que me distanciava
A cada passo
Branco, branco, o rosto branco
E se acaso distraída eu perguntasse: "pra onde?"
Não importava que erguendo os olhos
Avistasse paisagens
Regiões afastadas
Quem sabe
Branco, branco, o rosto branco
Haveria sempre de ouvir
Um juízo
Um cascalho
Um osso rígido
Desprovidos de qualquer dúvida
"Estamos indo sempre pra casa".

etc.

"Estou sozinho
Estou triste
Etc.
Quem virá com a nova brisa que penetra
Pelas frestas do meu ninho
Quem insiste em anunciar-se no desejo
Quem tanto não vejo
Ainda
Quem, pessoa secreta
Vem, te chamo
Vem
Etc."

Etc. Caetano Veloso.

sábado, 11 de julho de 2009

desabafo, meu desacato.

cansada de tentar entender, cansada de tentar. cansada dos emails sem resposta. cansada de aborrecer. cansada de persistir. cansada. cansada de sorrir em troca de silêncios.

cansada. cansada. cansada.
a batida contra a parede, o osso rígido, o coração que no vazio se lança.

cansada.
cansada.
essa mania tola de pedir esmola pras pessoas erradas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

tema

"Os meus espetáculos são todos sobre um único tema: sobre o amor e o que fazemos para sermos amados."

Pina Bausch.

terça-feira, 7 de julho de 2009

manhã de terça feira


"eu quero ir minha gente
eu não sou daqui
eu não tenho nada
quero ver irene rir
quero ver irene dar sua risada"

domingo, 5 de julho de 2009

urgente

urgente desejo desesperadamente pronunciar a palavra amor urgente que de tão vazia já não cabe ainda cabe alguém dentro da palavra amor? pois então urgente preciso dizer preciso torço diria inclusive mesmo que rogo, isso mesmo, rogo por pronunciar a palavra amor e que venha ela acompanhada de muitas lágrimas, destaques, abraços em descontentamento, música de domingo, pausas, muitas pausas, desejo pronunciar a palavra amor da maneira mais límpida e clara possível. a palavra amor aonde se encontra aonde se guarda quem a escuta mas a palavra amor será algum dia pronunciada na sua grandeza..? desejo que a palavra amor seja pronunciada da maneira mais arcaica mais sincera mais mais mais muito mais desejo pronunciar desejo que se pronuncie desejo encontrar alguém alguém que me ame com bondade desejo amar com bondade desejo pronunciar a palavra amor sem que ela não pareça uma zombaria eterna de si mesmo. desejo pronunciar a palavra amor com a pureza de quem cala.
...
...

"quanto mais amo mais calo"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

sexta feira três

"e porque eu leio romances e vejo filmes de amor, que é pra amar e pra chorar o amor que decidiram que eu devia querer ter pra mim..."

Arrufos, Espetáculo do Grupo XIX de Teatro.